domingo, 11 de novembro de 2012

A Guerra


O palhaço Jullietto adormeceu na roulotte do circo em que trabalhara desde sempre. Eram tempos de guerra, daqueles tempos difíceis, que moravam apenas no imaginário dos mais afortunados, como se a guerra fosse uma mera palavra, inventada para torturar a esperança de uma vida melhor. Mas aquele palhaço, era uma personagem real, do circo ambulante, que nos últimos tempos andava em círculos, para evitar os cenários de Guerra.
Naquele fim de tarde, (quando o crepúsculo convida ao retorno de nós mesmos, à laia de balanço pessoal), o palhaço Jullietto espreitou pela janela circular da roulotte do circo que circulava em círculos… não viu o resto da comitiva… sentiu-se mais só do que naquele dia em que disse com toda a graça, uma das suas engraçadas graças mas que ninguém achou graça.Talvez a guerra estivesse ali ao lado, pegadinha à sua pele, pintada de rançosas tintas.
Fechou os olhos e tocou um pequeno balão que estava perdido num bolso coçado do seu casaco riscado. Distraidamente soprou para dentro dele, gotículas de saliva corada como os seus lábios pintados de tintas rançosas.
Soprou um pouco mais e deixou que o balão aumentasse ainda….
Então, o milagre aconteceu: uma brisa silenciosa elevou o balão… e na pontinha do balão o palhaço Jullietto , incrédulo, a sobrevoar o mar.
Havia Guerra em todo lado, menos no coração do palhaço… Foi por isso que ele se tornou leve e partiu para lá do céu azul, que tanto o fascinava…

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