sábado, 11 de julho de 2015

Diz-me onde moras...



Diz-me onde moras...
"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por exemplo, há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide. Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide. Nunca mais ninguém o viu. Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide. Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.
Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja, ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.
Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau (...) Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na Europa. De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar? Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacto de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar. Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente. "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho). E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?", Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz). É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro? Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda. Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso? Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de umas Vergadelas? É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra". Ninguém é do Porto ou de Lisboa. Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir. Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro). É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away..."). Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!! Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros. Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...) Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do Bogadouro (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã ).
PS. Só faltou referir o Triângulo Erótico da Bairrada (Ancas, Bustos, Mamarrosa)!
 
(Miguel Esteves Cardoso)

terça-feira, 7 de julho de 2015

Obrigada por representar a verdadeira MULHER


A verdadeira Mulher mede-se pelas escolhas e pelos caminhos que trilha. Não é momento de enaltecer, de enfatizar as qualidades da Doutora Maria Barroso. É um momento de consternação que só o tempo poderá amenizar. As minhas sinceras condolências à família socialista, que sendo minha também, estará certamente comigo neste momento de perda.
Creio que a melhor homenagem que lhe podemos fazer será  porventura imitar-lhe a bondade e o trabalho feito em prol  da sociedade portuguesa.
Até qualquer dia...
Um beijinho.

domingo, 21 de junho de 2015

A boneca



Ainda tenho esta boneca.
Era a Lindinha.
Tive com ela conversas sem fim.
Agora é apenas a minha velha boneca.
Aquela que foi uma irmã para mim.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Tenho saudade...

Tenho saudade de escrever.
Saudade deste cantinho,
desta espécie de colinho
onde me posso dizer.

Tenho saudade de mim
saudade de conseguir sonhar
tenho saudade da vida
que um dia me vai matar....

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

sábado, 30 de agosto de 2014

Minha Lassie

 

Vir aqui carpir mágoas está a tornar-se um lugar comum. Se calhar ninguém lê mas a ideia é fazer deste espaço o meu sofá de psicanálise. O meu banquinho de desabafos. A soleira da minha alma.








Com o tempo os momentos de reflexão sucedem-se. Se nos perguntam, se calhar respondemos com uma inusitada desculpa, sempre aquela que sendo muito respeitável é também a que está sempre à mão: Estou cansada.



 


Parecendo uma resposta satisfatória,  no fundo ela é a mais complexa de todas as possíveis. De fácil aplicação em todos os contextos de indesejada cavaqueira. Cansada, de quê? da vida? Das pessoas? Das situações? Da casa? Da escola? Da política? Dos sistemas Político / Económico / Financeiro / Educacional / Sanitário / Religioso / Afectivo/ Relacional ou de mim mesma? 
 De tudo?
 
                                              

 










A minha amiga Lassie está na recta final. O sofrimento é visível.
Não posso fazer mais senão chegar-lhe comida e água e dizer-lhe obrigado pela lealdade, pela fidelidade e pelo afecto. 



Não quero chorar porque me faz doer muito a cabeça, fisicamente. Mas a cabeça até me estoira. E eu, incapaz de valer aos que precisam, peço desculpa  e digo à minha cadela que a amo. Sempre amei e amarei. Fez tudo pela sua família humana.Já lhe chega.
Pode ir descansar.